sexta-feira, setembro 10, 2010

Religão e Intolerância - o poder da mass mídia

Hoje fiquei entre CNN e Globo News na cobertura de 'to burn or not to burn' do Alcorão pelo pastor norte-americano Terry Jones, que carrega a fama de manipulativo e controlador, segundo a CNN, mas quem Luiz Felipe Pondé, no Entre Aspas hoje, considerou ' um representante autêntico (?) de uma América profunda, insatisfeita', entre outras bobagens ditas por ele, como quando fala:`no ocidente tolerância é um problema unicamente do ocidental regular, porque o muçulmano radical é intolerante`. Affe! Que revelação!

Mas Pondé acerta quando deixa de lado seus achismos - que desprezam o contexto histórico da questão muçulmanos radicais x USA - ao dizer que o governo Obama deveria ter intervindo na questão da construção da mesquita perto do destruído WTC há mais tempo. Em prol de uma postura de tolerância que não condiz em nada com a política armamentista fora de casa, deixou que um pastor tão ignorante quanto um muçulmano radical se tornasse a cereja em cima do bolo para a mídia de massa em sua constante e desesperada corrida por notícias com potencial bombástico. Hoje, em nome da notícia e da liberdade de expressão que a lei lhe outorga, o 4o poder faz o que bem quer sem pensar nas consequências e, princpalmente, na importância de seu papel social, formador e fomentador de opiniões. O ato de um pastor insignificante ir lá queimar uma dezena de Alcorões no quintal de sua igreja teria desencadeado tamanho furor no mundo se a mídia o tivesse ignorado? O que fez a mídia dar tamanha importância à Terry Jones, além de sua sede por audiência e de gerar polêmica?!

Durante a cobertura internacional, ficou claro que os muçulmanos em protesto estão entendendo a queima do Alcorão como um ato dos EUA contra o seu mundo. Para eles, o que aparece na mídia de massa é representativo da vontade de toda uma nação. Quem os levou a pensar assim? Por que são tão intolerantes, revoltados? A lista de razões é interminável, mas vale citar pelo menos dois elementos chaves históricos: o baixíssimo nível educacional e o dia a dia de luta para sobreviver em um ambiente marcado por governos corruptos dentro de casa e que foram alimentados, historicamente, pelas ex-potências ocidentais, que em casa falsamente hasteiam a bandeira de nações tolerantes, de uma democracia que estes povos nunca vivenciaram na prática e que até hoje só lhes trouxe desagravos.

Das lembranças de meus recentes dez anos vividos dentro da sociedade inglesa, sempre me lembro de um diálogo com Noll Scott, um dos jornalistas mais brilhantes que já conheci, que infelizmente não está mais entre nós, e responsável pelo melhor projeto de jornal on line já desenhado - o do The Guardian - e pelo qual ganhou vários prêmios.

- Noll, não consigo entender como vocês, ingleses, são tão tolerantes com atitudes, muitas vezes, visivelmente intolerantes de comunidades não-inglesas vivendo em Londres.

Ao que Noll simplesmente respondeu: - porque senão haveria uma guerra civil.

Como adverte Chris Brazier, autor do 'No-Nonsense guide to World History', publicado pelo New Internationalist, no capítulo 4, Deus e o Espírito - profetas e videntes despontam por toda Asia no século VI AC, pavimentando as raízes dos principais e mais modernos movimentos religiosos. 'O século VI AC foi um dos mais extraordinários da história humana. Mesmo assim, nenhum líder político ou historiador daqueles tempos entenderia como pessoas como nós, 25 séculos depois, nos lembraríamos dele. Talvez esteja aí uma lição: talvez nossa própria era será lembrada menos pela descoberta dos computadores e viagens aéreas, armas nucleares e chegada à Lua, que pelo nascimento de um obscuro profeta, cujas ideias varrerá o mundo nos séculos seguintes'.

Não surpreenderia o surgimento de um novo Hitler, não pela eleição 'democrática' de um povo, mas por uma via ainda mais nefasta: manufaturado pela manipulação da mídia de massa.

Um comentário:

Reinaldo Luz Santos disse...

Belo texto Sonia

Também me preocupo com os rumos que a humidade está tomando. A loucura de alguns poucos, mesmo perante o amor de tantos outros, já fez muita gente sofrer. A história diz isso.

Compartilhei seu artigo com alguns amigos. Beijos e falamos