sábado, novembro 07, 2009

O retorno à terra-pátria

Lembro-me de quando, há uns quatro anos, fiquei hospedada no apartamento construído nos fundos da casa de minha mãe, já que não tínhamos nenhum inquilino naquele momento. Era uma de minhas visitas anuais ao Brasil. Ao entrar naquele pequenino espaço, que reformei com tanto carinho, senti uma brisa de nostalgia, uma felicidade muito pessoal que não sentia há muito tempo.

Também nunca consegui evitar a forte emoção ao ver a selva de concreto, que é São Paulo, sob meus pés antes mesmo do avião aterrizar. E o estranho sentimento de que, logo após o segundo dia em terras brasileiras, Londres-Inglaterra pareciam ter ficado dez anos atrás no tempo. (Diferente do sentimento, ao chegar ao Brasil, de que havia passado apenas um final de semana fora da terra natal).

Hoje, decidida que estou a voltar a viver por aqui, me vem à mente as passagens no livro de Caetano Veloso, Verdade Tropical, sobre seu exílio em Londres nos anos 70. Não fui 'exilada' para Londres. Mas percebi que não importam as circunstâncias : para alguns de nós – e nisso talvez me identifique com a experiência de Caetano – é simplesmente impossível morar em outro país. Não previ que seria assim comigo, mas acabou sendo. Dizem ser este um sentimento comum entre os brasileiros. Chega um momento em que você simplesmente quer voltar. É um querer tão forte, toma conta de você tão inteiramente, que não lhe deixa outra opção senão pegar o primeiro avião e simplesmente voltar. Nada que lhe digam ou mesmo nada que você diga a si mesma(o) – por mais coerente, sensível e lógico que seja – lhe faz mudar de idéia. No meu caso, acima até mesmo deste sentimento que me invadiu há três anos, está a dor da separação de minha família – hoje reduzida a mim e minha mãe –, contra a qual cansei de lutar. Não é fácil deixar a vida que construí na Inglaterra, mas está sendo ainda mais difícil não viver o Brasil e minha família de sangue. Simplesmente vivê-los.

Dizem que os brasileiros voltam à terra natal por diferentes razões : o clima, a liberalidade, a orgia, a comida, a beleza da natureza e aquela nascida da mistura de raças e culturas. Eu sentia falta do povo brasileiro, da "gente humilde", como na canção de Chico, aquela grande parcela da sociedade brasileira também conhecida por sua solidariedade, alegria, força e talento. Considero a arte e cultura populares brasileiras uma das mais ricas do mundo, justamente pela capacidade de nosso povo em absorver e aprender do caldeirão de influências que herdou de suas características (i)migratórias, entre outras. Da capacidade de fazer nascer uma forma sempre pessoal de arte e cultura, uma unicidade que se multiplica pelo vasto território brasileiro.

E acredito que, mesmo com desafios que parecem muitas vezes insuperáveis, o Brasil pode contribuir de maneira significativa na construção de um novo mundo através de seu mais precioso bem – que para mim não é sua auto-suficiência em petróleo, sua riqueza agrícola ou qualquer outra commodity, mas sim este povo cheio de graça, espirituoso, solidário, talentoso, educadíssimo e repleto de alegria e amor para dar.