segunda-feira, dezembro 18, 2006

À minha avó Dylla















Suas mãos eram tão suaves como o mais fino algodão.


Seus dedos delgados trabalhavam, com idêntica desenvoltura e delicadeza, as teclas do piano, a colher de pau na panela, a roupa no tanque, o crochê, o bordado, o toque de carinho na cabeça dos netos e netas, as páginas das centenas de livros. Livros intensos, fascinantes, fortes, repletos de histórias cheias de significados e sabedoria – como sua insaciável leitora.


Tenho vontade de escrever sobre seus olhos azuis, a profundeza e brilho daquele ilimitado azul. Tenho vontade de falar de nossas conversas, de seus conselhos, de suas histórias, de sua sabedoria, sua beleza. Mas só consigo pensar nas suas mãos, nas mãos que cuidaram de tantos, que salvaram vidas quando enfermeira, que trouxeram mais crianças para sua casa já repleta das mais belas filhas e filhos. Do seu aperto de mão – sempre com as duas mãos, deixando a nossa ao meio, aconchegadas como numa concha, como em seu útero, como se todos tivessem vindo dela, como se ela fosse o começo, o centro e o porquê de nossa existência, a mais pura tradução da Avó, da mãe-mestra, mastro, maestra.


Dessas mãos que alimentaram, que acalentaram, amaram, tocaram, bordaram os mais belos motivos e mais belos crochês e cozeram os mais saborosos pratos, sempre com a mesma suavidade e delicadeza, não importava quão duro fosse o trabalho daquele dia e o quão longo estivesse destinado a durar.


Suas mãos que nos ensinaram a sabedoria de que, não importa o perigo, obstáculo, dificuldade ou desafio que talvez tenhamos de enfrentar: suas mãos nos ensinaram a tocar e olhar o mundo com amor, delicadeza e sensibilidade, mas não de forma menos profunda, forte e determinada, porque esta, pelo ensinamento de suas mãos, é a receita do belo, da arte e do amor.